São Paulo: relação de amor e ódio
>> 20 outubro, 2009
Faz uns dias que venho ensaiando esse post. Tenho com Sampa uma relação dúbia como poucas na minha vida, de sentimentos extremos – sendo possível senti-los em um único dia. Seguem então duas pequenas listas de motivos que encontro para amar e odiar São Paulo com todo meu coraçãozinho:
Eu simplesmente odeio:
- levar no mínimo uma hora para ir e uma hora e meia para voltar do trabalho. Além de obrigar a acordar quando ainda está escuro, eu perco 2h30 por dia no trânsito, o que dá um total de 12h30 por semana, 50 horas por mês (mais de dois dias!), 600 horas por ano. É quase um mês do ano todo gasto indo de um lado para o outro.
- ver pessoas morando nas ruas, especialmente crianças. Sábado, na fila pra entrar na balada, um menino de uns oito anos veio pedir moedas e ninguém deu. Ele virou e falou: “é, pedir moeda não vira nada mesmo... tem mais é que roubar!”. O que você fala/faz numa situação dessa?
- Poluição. A minha pele, meu cabelo e minha saúde sofrem com isso. E não sou só eu, claro.
- Falta de educação. Óbvio que não é todo mundo, mas me irrita profundamente uns caras sentados no assento reservado pra idoso no ônibus, gente estressada buzinando no trânsito (dá pra perceber que to com trauma de trânsito, neh?rs), gente que não respeita compromissos.
- Uma sensação constante de insegurança. Juro que com isso eu tento não encanar pra não ficar paranóica, mas talvez eu (e td mundo) já esteja sem perceber. Prova disso é que sempre ando com a bolsa agarrada junto ao corpo (mesmo que várias vezes ela esteja aberta, né babe?hahahah), olhar para todos os lados quando paro no farol, nunca andar com muito dinheiro, etc.
- O preço abusivo de tudo: pra comer, pra comprar roupa, pra se divertir. Tudo em São Paulo anda bastante caro para o meu bolso.
Ah, como eu amo:
- Estar na maior cidade do país. São Paulo não para nunca: dá pra comer pizza de madrugada, ver filmes alternativos, passear na Paulista domingo e ter zilhões de opções de museus, cinemas, teatros, lojas, restaurantes. Isso sem contar a Mostra Internacional de Cinema que começa nessa sexta! Yupi!
- Também são muitas as opções para quem estudar e não só faculdade. Tem curso de tudo que você puder imaginar, baratos, caros, gratuitos. As bibliotecas, museus, livrarias sempre têm palestras e atividades bem bacanas pra quem ficar mais informado sem gastar.
- São Paulo tem viado, tem traveco, tem japonês (pra cacete), tem negro, tem drag, tem punk, tem emo. Tem gente que veio pra cá porque não teve alternativa e agora não sai daqui de jeito nenhum. E assim a cultura da cidade foi mudando e hoje tem mais nordestino fazendo sushi que japonês, tem árabes que se deliciam com a nossa inigualável pizza, tem coreano ensinando como se joga baseball.
- Tem o Mercado Municipal, onde eu tomo uma cerveja comendo pastel de bacalhau e compro queijo com pistache (isso tem um nome meio chique que eu não faço muita idéia qual seja). E o Mercado Municipal fica do lado da Rua 25 de Março, onde é possível encontrar qualquer tranqueira que você procurar. E tem o Centro, degradado, sujo, fedido, mas lindo de morrer. Sem falar na Catedral da Sé, da Pinacoteca, da Estação da Luz e do maravilhoso Museu do Ipiranga.
- Todos (ou a imensa maioria deles) os shows de bandas gringas acontecem aqui. Eles podem até gostar das praias cariocas, ma o público paulista leva todo mundo à loucura.
- Ir pra pós-graduação e, na Augusta cheia de “casas noturas”, encontrar engravatados estudantes de direito, patricinhas do Mackenzie, bichos-grilo da PUC, prostitutas, trabalhadores cansados, amigos conversando, gente tomando uma gelada nos botecos. E, mais impressionante, ver que aquele mendigo que dorme todas as noites no mesmo lugar, como se aquele espaço público já tivesse se tornado privado e ele estivesse protegido por paredes invisíveis a todos os outros, deitado na sua “cama” lendo uma revista velha como se nada mais existisse e realmente aquilo fizesse muita diferença na vida dele.
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