Pensamentos da Infância

>> 18 junho, 2010

Tem gente que tem a impressão de que a vida era mais fácil na infância, tem gente que tem certeza disso e tem gente muito amarga – como eu – que pensa que isso é mentira das boas. E quando digo boa é só porque é convincente.

O fato é que na infância, as pessoas tendem a acreditar em uma porção de coisas que não existem e as pessoas ou a própria vida te mostram que aquilo lá não é verdade (no fundo, no fundo, você sabia que não era verdade. Afinal, como é que Papai Noel tá em todos os shoppings e no Polo Norte e tals?)

Um exemplo de quando uma pessoa mais velha te conta que algo em que você acreditava é meu mesmo, mas a “vítima” foi minha irmã, rs! Um dia, cansada desse papo de Papai Noel e achando que as pessoas estavam fazendo ela de tonta – e com inveja master dela ainda acreditar e eu, não-, contei pra ela que ele não existia. Ela, é claro, foi perguntar pra nossa mãe que, é claro, perguntou quem é que tinha contado esse absurdo. Acho que posso omitir o próximo “é claro” dessa história, né? Bom, mas aí depois disso eu me senti tão culpada (e com tanto medo da minha mãe) que eu falei pra ela que era brincadeira, que era óbvio que Papai Noel existia, mas aí ela já não botou muita fé.

Ok, vamos aos casos em que a vida se encarrega dessas coisas.

No último dia das mães em que meus pais estavam juntos, meu pai deu um relógio pra minha mãe e eu lembro como se fosse hoje daquele momento em que fomos os três (eu, ele e minha irmã) entregar o relógio pra ela numa caixinha preta toda bonitinha. Aí que depois que meu pai morreu, minha mãe passou a usar o relógio direto e, na minha pseudo-compreensão do universo, aquele relógio era um símbolo da presença do meu pai. Um dia, depois de um tempo, um moleque roubou o relógio da minha mãe num semáforo qualquer. Eu estava no banco de trás e minha angústia foi tão grande que eu chorei aquele choro doído... todo mundo ficou triste, mas em mim era como se agora minha mãe não fosse mais lembrar dele toda hora (com o perdão do trocadilho!).

Na infância/ adolescência, todo mundo tem seus heróis. Meu babe me contou hoje que adorava o Magic Johnson e aí ficou super triste quando ele contou que estava com AIDS. Como é que pode nosso herói ser suscetível a essas coisas? E aí, num programa de televisão em que ele (o Johnson, não meu babe) foi numa creche ou algo do tipo, uma menina fez uma pergunta e depois começou a chorar e aí ele chorou. E até meu babe chorou!
Isso me lembrou do Cazuza... engraçado pensar como eu adoro Cazuza e ele morreu quando eu tinha só cinco anos. E eu lembro que todo mundo em casa ficou com os olhos cheios d’água quando passou no Jornal Nacional que ele tinha morrido e eu fiquei em estado de choque quando olhei aquele cara na cadeira de rodas, magérrimo, careca, com um lenço na cabeça, frágil... e aí passou um momento dele antes, saudável, lindo, curtindo a vida. Eu realmente não entendia como podia ser o mesmo cara...

Só pra dar ninguém ficar deprê, teve um sonho infantil que depois eu vi que era uma mentira das boas, mas me deixa feliz pensar como eu era tolinha. A gente ia no Mc Donalds uma, duas vezes por mês. Primeiro porque era uma porcaria, segundo porque a gente tinha o costume de comer sempre em casa e o mc era relativamente caro. Mas a ideia que eu tinha era de que a gente não ia porque Mc Donalds era caro e só gente rica podia ir com frequência e sempre pensava: quando eu crescer, eu quero ser rica pra poder ir no Mc Donalds todo dia! Era meu objetivo de vida! Hoje eu posso ir ao Mc Donalds todo dia, mas continuo pobre... só que só de saber que esse sonho infantil é possível já me deixa feliz... por um lado, é tão bacana essa inocência infantil...
Bom finde!

1 comentários:

Daniwell,  18 de junho de 2010 às 23:08  

Tentei achar um video dessa entrevista mas não consegui, foi um dos programas mais emocionantes que eu ja assisti na vida... as criancinhas portadoras do HIV, se emocionando e dizendo que elas queria ser tratadas como normais e que tbem precisavam de carinho... foi foda... o Magic chorava feito criança...
O magic é o culpado por eu não ter idolos... a decepção foi muito grande na epoca...
HIV naquela epoca era sinonimo de morte, mas o Magic segue firme e forte... ainda bem...
beijo
te amo

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