Saudade

Eu odeio sentir saudades. E eu acho que é maior papo furando esse lance de saudade boa, saudade gostosa de se sentir. Pra mim só é boa quando você mata, e quando você mata ela simplesmente deixa de ser saudade...
Quando eu não sinto saudades de pessoas, eu sinto de lugares, de situações, de cheiros e sons, de momentos que não vão voltar mais. Sim, eu sou uma pessoa saudosista com apenas 23 anos! E isso seria deprimente se não chegasse a ser engraçado... é que eu sempre lanço um “lembra daquele dia?” e todo mundo se espanta “nossa, como você lembra disso? Esse dia foi engraçado mesmo!”....
Saudade de quem já foi embora há muito tempo e não volta mais. Saudade dos domingos andando de metrô com você e com a Lud, dos domingos em que você chegava com o jornal e ficava um tempão lendo algo que para mim era indecifrável (pai, eu não lembro se você me dava a Folhinha pra ler e isso me deixa com raiva de mim mesma... como pude esquecer?), saudade daquela tarde em que ficamos jogando “Planeta Terra” que você tinha acabado de me dar... e naquele dia tudo parecia tão especial que eu nem imaginava que seria o nosso último Dia das Crianças... saudade do seu cheiro que eu não lembro muito bem, mas do seu olhar eu não esqueço... que bom!
Saudades da infância que eu perdi porque meu primo-irmão estava do outro lado do mundo. Quando ele foi, eu ainda conseguia pegá-lo no colo e, quando voltou, a gente quase podia inverter os papéis.
Saudade de quem ainda mora longe, do primo do coração (mi cielito), dos finais de semana em que ele me levava pro shopping, pagava Mc Donald’s, comprava CDs e me ensinava o que era rock’n’roll. O que seria de mim sem aquelas tardes em que eu pedia “Paulo, posso levar esse CD pra casa?” e ele sempre me dava aquele e mais uns três... “ouve esses também”. E Smiths nunca mais saiu do meu quarto e, quando fui visitá-lo, descobri que ele já tinha comprado outro para substituí-lo... meu presente roubado favorito!
Saudade do amigo maluco que me faz chorar de rir com as coisas mais sem noção do planeta, que me liga só pra falar besteira, que é maloqueiro pra caramba e tem um coração do tamanho do universo. Saudade dos churrascos em que a gente bebia tanta cerveja e fazia tanta besteira sem se importar com nada...
Saudades do meu amigo nipo-brasileiro-americano, meu pivô favorito. Acho que nunca vi um trio tão em sintonia quanto eu, babe e você...hahaha!
Saudades dos lugares em que já estive... saudades da host family, das amiguinhas da América, saudades dos amiguinhos espalhados por aí, saudades de Londres (o tempo todo, rs!). Saudade do show do Damien e daquele abraço gostoso que ele me deu. Saudade da época do colegial, dos amigos, das baladas, das besteiras que fizemos. Saudade do namorado que fico a semana todinha sem ver e só sobra o final de semana pra agarrar e curtir junto.
Como sentimentos tão diferentes podem ser definidos simplesmente como saudade? O dicionário explica: “sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável”.


Tom e Vinicius souberam explicar bem isso que estou sentindo... “Chega de saudade, a realidade é que sem ela não há paz, não há beleza. É só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai”...