Só por hoje...

>> 10 maio, 2010

Quando era criança, eu tinha um certo trauma de dia dos pais. Quando chegava o mês de agosto, eu já começava a pensar em tudo que ia acontecer dali a alguns dias. Provavelmente faríamos algo especial na escola: uma cartinha, um porta-retrato, uma colagem, uma poesia, alguma coisa. Minha irmã, como é mais nova, vinha da escola com um bilhetinho pedindo pra mamãe mandar dinheiro pra pagar o presentinho que a escola mandava e invariavelmente minha mãe pagava e minha irmã entregava pra ela ou pra minha vó o tal presente. Eu não. Eu fazia tudo que a escola propunha, chegava em casa e guardava no meio das coisas. Eu não tinha coragem de entregar aquilo pra ninguém porque não queria chorar na frente de ninguém e era isso que acabaria acontecendo porque eu simplesmente não conseguia aceitar o fato de todas as outras crianças terem um pai pra entregar o tal presente e eu não.

Além disso, acho que era uma maneira de fazer minha mãe e as outras pessoas pensarem que eu estava bem, que aquilo era uma coisa normal e que eu nem estava me importando.

Na escola em que eu estudava tinha um coral do qual eu fazia parte (obviamente não havia critérios para participar senão eu não estaria ali) e nessas datas especiais nós cantávamos na Igreja Santíssima Virgem, que fica pertinho da escola. Em um dia dos pais qualquer, a professora do coral me chamou e falou que eu não precisava participar, que ela sabia que meu pai tinha morrido e todo esse blablabla. Eu disse que tudo bem, que participaria. Exatamente pra que as pessoas acreditassem que pra mim era uma coisa bem natural, quando na verdade eu estava morrendo de vontade de fugir dali, que eu estava puta com deus por tudo aquilo.

Se antes eu tinha esse pavor do dia dos pais, esse ano eu desejei que o dia das mães também não estivesse no calendário porque eu não venho falando com a minha muito bem há meses. E o que mais me incomoda nessas datas “especiais”, como Natal e Páscoa e afins, é que as pessoas acham que você tem que ignorar tudo que aconteceu nos últimos meses, comprar um presente e agradecer por ter a melhor mamãe do mundo. Não importa se ela tenha te decepcionado ou te magoado, tudo isso some num passe de mágica nesses dias.
Ontem aquela sensação do passado voltou. Mas agora sou eu que sou diferente. E sou eu que estou determinada a dizer: não, não está tudo bem e não vamos fingir que está tudo bem, ok? Esse ano eu não vou comemorar porque eu não quero. E eu tenho esse direito.
Às vezes me dá um baita alívio não ser mais criança.

"Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz"
Legião Urbana

2 comentários:

Bruno do Iglu 12 de maio de 2010 às 12:26  

Un abrazo bien fuerte, y no hay más dolor...=)
Bonito, bonito...

Daniwell,  12 de maio de 2010 às 14:30  

Ainda bem que chorar no trabalho não da justa causa, senão eu tava fudido...

beijo
te amo

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